terça-feira, 20 de novembro de 2007

Avaliação Final - Proposta de Atividade de Leitura e Escrita e Capacidades




Professora:Dirce
Trabalhando com o Gênero -Crônica (2ª série -EM)


Texto I DEBAIXO DA PONTE

Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de cima; ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás, porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam contra falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebê-los fazê-los desfrutar comodidades internas da ponte.
À tarde, surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne.
Nem todos os dias se pega uma posta de carne. Não basta procurá-la; é preciso que ela exista, o que costuma acontecer dentro de certas limitações de espaço e de lei. Aquela vinha até eles, debaixo da ponte, e não estavam sonhando, sentiam a presença física da posta, o amigo rindo diante deles, a posta bem palpável, comível. Fora encontrada no vazadouro, supermercado para quem sabe freqüentá-lo, e aqueles três o sabiam, de longa e olfativa ciência.
Comê-la crua ou sem tempero não teria o mesmo gosto. Um de debaixo da ponte saiu à caça de sal. E havia sal a um canto da rua, dentro da lata. Também o sal existia sob determinadas regras, mas pode tornar-se acessível conforme as circunstâncias. E a lata foi trazida para debaixo da ponte.
Debaixo da ponte os três preparam comida. Debaixo da ponte a comeram. Não sendo operação diária, cada um saboreava duas vezes: a carne e a sensação de raridade de carne. E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento) quando começam a sentir dores. Dores que foram aumentando, mas poderiam ser atribuídas ao espanto de alguma parte do organismo de cada um, vendo-se alimentado, sem que lhe houvesse chegado noticia previa de alimento. Dois morreram logo, o terceiro agoniza no hospital.
Dizem uns que morreram da carne, dizem outros que do sal, pois era soda cáustica. Há duas vagas debaixo da ponte.
Carlos Drummond de Andrade
*Levantamento de algumas hipóteses sugeridas através do título;(comentários)

*Leitura silenciosa;

*leitura pela professora inferindo sentido à compreensão e interpretação;

*Checagem das hipóteses.

*Mostra aos alunos como a crônica transforma um fato curriqueiro em tema do cotidiano(questão social).



Interpretação do texto

1-No primeiro parágrafo, ao introduzir o cenário, o narrador já anuncia o envenenamento das p-essoas.Que expressão reforça essa afirmativa?
2-O narrador naõ atribui nomes próprios ás personagens,busca apresentá-las como excluídas dos direitos de cidadania.Cite alguns exemplos que confirme a afirmação.

3-"Dizem que morreram da carne ,dizem outros que do sal,pois era soda caustica"."Há duas vagas debaixo da ponte".O desfecho irônico do texto sugere o quê?


(Habilidades desenvolvidas)

*Localiza ruma informação explícita;

*Inferir uma informação implícita no texto;

*Estabelecer relações de causa e consequ~encia entre os episódios narrados.




Texto II -Intertextualidade (literário-poético)


O Bicho


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era cão,
Não era gato,
Não era rato.

O bicho,meu Deus,era um homem.
Manuel Bandeira
Interpretando o texto

1- O processo de construção do texto é metafórico, estabelecendo uma relação de seres mencionados por alguns substantivos.Descreva-os.
2-O que caracteriza os personagens do texto é o espaço(lugar onde ocorrem os fatos).Porém ocorre uma diferença entre a situação vivida no texto Ie II.
3-Qual é o sentimento que o poeta demonstra nos seguintes versos:"O bicho, meu Deus,era um homem".
4-Considerando-se a acepçaõ de dicionário da palavra bicho:"qualquer dos animais terrestres à exceção do homem" e o poema,pode-se dizer que o poeta criou uma imagem de contadição aparente?Comente.

(Habilidades desenvolvidas)
*Identificar informações explícitas;
*Estabelecer relações entre este texto e o I,explorando a intertextualidade;
*A partir de informações contida no texto ,inferir o posicionamento do autor;
*Posicionar-se sobre os fatos narrados, a partir de elmentos presentes no texto .







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